Já não o temos mais entre nós. Se foi em 2005. O cigarro, sempre entre seus dedos, o levou muito cedo. Resta-nos recordá-lo e tentar internalizar seu legado que foi muito significativo para os que bailam tango. Para tentar entender Gavito há que saber que em 1942 ele nasceu destinado para o tango. Aos 7 anos começou a estudar bandeneón. Aos 10 começava sua trajetória de bailarino. Passou pelo rock`n roll, o flamenco, de tudo. Aquele que um dia inventaria "a pausa", em contraste, movia os pés com uma velocidade impressionante.
Com Forever Tango, viajou por todo o mundo e seu baile foi -se aprimorando, baseando-se na simplicidade assim com também em uma dinâmica comprimida que deixa ver a intenção do passo mais que a sua execução. E foi também criando seu estilo com passos e figuras como a "apilada", que lhe gostava muito e que chamava de "carpa".
Gavito também jogou no lixo aquele mito convertido em
frase
feita de velhos milongueiros que pontificam regras como a que “o
tango deve ser dançado somente caminhado, sem passos ou figuras” (talvez porque
não saibam fazer nenhuma figura e por isso se refugiam com essa frase feita).
Gavito, caminhava o tango como ninguém mas não deixava de fazer mil e uma
figuras e passos. Seus enrosques, varridas, sacadas, paradas, giros, apiladas,
voleios, colgadas e volcadas, mostram um artista que bailava, não só os
silêncios, mas que acompanhava com movimentos rápidos ou lentos, mas sempre sensuais
o que a orquestra lhe pedia. Podia bailar Darienzo a 100 Km por hora ou ficar
parado no ar com esse gesto felino que o caracterizava quando soava Pugliese. Mas para mim, a cumplicidade dos corpos e dos movimentos está marcada no quadro em que Marcela e Gavito se encontram em instantes de intimidade artística, imóveis entre as notas de "A Evaristo Carriego", que se vão apagando, igual como sua respiração e mirada levemente opaca. Para mim, Marcela Duran foi sua parceira mais completa.
CURIOSIDADES: Contam que uma vez em Tokio, quando em frente de uma infinidade de casais descrevia suas emoções ao escutar e bailar um tango de Pugliese ou de Tanturi, as palavras lhe saiam do coração, com tal força, que todos, homens e mulheres, se comoveram. E Gavito saiu da sala silenciosamente. Os japoneses, enxugaram as lágrimas, puseram um tango e voltaram a bailar.
Em Milán, em uma noite de abril de 2004, em um Café, Gavito desenhou um passo, assim, simplesmente para mostrar e houve uma mulher a quem se lhe encheram os olhos de lágrimas.
Pergunto, e você, que baila tango, alguma vez fez alguém chorar com o teu baile? quando realmente conseguires essa façanha, terás a certeza de estar no caminho certo.
Gavito nos comunicava suas emoções desenhando poesia no piso, com o coração e os pés. Partiu em 1º de julho de 2005. Nos deixou imersos no seu silêncio.
Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo chalegre.nida@gmail.com que encaminho dicas relativas ao seu interesse. Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), arte, gastronomia, vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.