UM PASSEIO PELO BAIRRO DE BELGRANO - Museu ENRIQUE LARRETA E A Milonga das BARRANCAS DE BELGRANO - por Nida Chalegre

O bairro de Belgrano em Buenos Aires esconde muitas surpresas. Além da sede da Embaixada da Malásia (País

aonde temos muitos leitores desse blog) e da Embaixada da Alemanha, uma em frente à outra, há um Museu que foi a casa de Enrique Larreta, escritor argentino (1875 - 1961), autor de La gloria de don Ramiro, obra altamente representativa do modernismo hispanoamericano. 

Sua casa, decorada em estilo renascentista espanhol, é atualmente o Museu de Arte Espanhola Enrique Larreta.

Lá se pode apreciar o mobiliário e as coleções de obras e objetos de arte que testemunham sua paixão pela Espanha desde que lá viveu também como Embaixador. A casa tem um

jardim de alcázar andaluz, único em seu estilo em Buenos Aires.

Escritório de Enrique Larreta

Sala de Jantar da casa

A EXPOSIÇÃO:

É nesse Museu que vi essa tarde uma exposição interessantíssima, para não dizer surpreendente. São 80 obras de Goya, interpretadas por Salvador Dali - "Les Caprices de Goya por Salvador Dali". A mostra se centra nas duas maiores figuras da arte da Espanha: Goya e Dali.

Goya

Salvador Dali

Goya publicou "Os Caprichos" em 1799 e Dali os reinterpretou quase dois séculos

depois, entre 1973 e 1977 com sua particular mirada surrealista do mundo.
Dali muito se inspirou em Goya: os relógios moles, as figuras ambíguas e os temas eróticos.
Goya foi um crítico da sociedade e hipocrisia da sua época. Dali, um irreverente e extravagante. Ambos eram geniais e romperam com regras e apostaram na fantasia. Até 8 de dezembro se pode desfrutar desse "Capricho Surrealista".

Mas para não se entrar no mundo real muito agressivamente, depois desse choque de

surrealismo, a dica é sair do Museu, andar umas 5 quadras e terminar o início da noite dançando uns tangos na "milonga da glorieta das barrancas de Belgrano", que acontece em alguns dias da semana, em um coreto na praça, à luz do luar, livre e gratuita, para quem se propõe a desfrutar da mágica do abraço tangueiro. 

Glorieta

Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo nida@nidachalegre.com.br que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), gastronomia, vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

UMA CIDADE A SER VISTA TAMBÉM OLHANDO PARA CIMA – AS CÚPULAS DE BUENOS AIRES – por Nida Chalegre

A maioria das pessoas passeia pelas cidades sem olhar para cima. Também aqui, com tantas magníficas construções e atrações, como as lindas portas de ferro em frente às quais deparamos deslumbrados (falarei delas em outra postagem), não nos damos conta que o mais lindo está perto dos céus. Isso mesmo, são mais de 400 cúpulas que enfeitam a terminação de prédios antigos e rasgam o céu de Buenos Aires, oferecendo um  espetáculo único e surpreendente.

As cúpulas foram sinônimo de uma época de opulência quando a arquitetura era uma forma renascentista de irmanar-se com Deus. A cúpula, imponente, com uma ponta direcionada aos céus, era um símbolo de “status” usado pelas primeiras famílias ricas que o país teve. A influência altamente européia da arquitetura dessas cúpulas, mais as necessidades da classe da burguesía local do século XIX de ser similar às classes altas européias, fez com que trouxessem para a América grandes mestres e artesãos da construção. 

Foi assim que as classes dominantes argentinas começaram a coroar seus grandes prédios com cúpulas, que no princípio eram pensadas como pombais, mas que depois passaram a ser ocupadas como quartos ou terem outros usos, porque multiplicavam o valor das propriedades.

Diferentes hotéis cujos donos eram imigrantes também adotaram a moda. 

Pode-se ver a maioria dessas cúpulas nos arredores do Congresso, ao longo da Avenida de Mayo, e ao longo de todo micro-centro da cidade.

Entre as que mais chamam a atenção dos transeuntes e visitantes, destaca-se a cúpula do

Congresso, enorme e imponente com sua cor verde esmeralda. Ao lado direito do Congresso, vemos a antiga "Confeitaria del Molino" que espera, em processo de visível deterioração, que seja restaurada e volte ao esplendor que merece.Cúpula do Edifício Barolo com seu farol.

E assim vai-se caminhando e descobrindo as cúpulas com estilos variados
aonde sobressaem o árabe, o espanhol e o russo. Ao cair da noite, algumas surgem iluminadas enfeitando os céus e criando um espetáculo romântico ao se imaginar a ocupação e a vista privilegiada da cidade que tão lindos espaços podem proporcionar. Dá até para imaginar uma “Rapunzel” jogando suas tranças... As cúpulas tem suportado o passar dos anos, tormentas, chuvas, e verões e do alto, têm sido testemunhas privilegiadas da história argentina. 

Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo nida@nidachalegre.com.br que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), gastronomia, vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

OS BARES NOTÁVEIS DE BUENOS AIRES - A DESCOBERTA DO “LOS LAURELES” por Nida Chalegre

Desde o tempo em que escritores, intelectuais, jornalistas e artistas se reuniam, entre os séculos XIX e XX, para conversar nas mesas de bares e cafeterias portenhas, o ato de tomar café se tornou uma instituição na capital argentina. Em qualquer hora do dia pode-se ver pessoas tomando um café, lendo um jornal, um livro, ou conversando calmamente com outra, desfrutando desse momento, como se nada de melhor tivessem para fazer.

Assim, existe, em Buenos Aires, uma quantidade de bares notáveis,  tombados pelo patrimônio histórico pela sua importância histórica, arquitetônica e cultural. São mais ou menos 50. A maioria dos turistas visita aqueles mais centrais que estão nos roteiros turísticos, como o Café Tortoni e o Café de los Angelitos, por exemplo. 

Inclusive, o governo da capital implantou um projeto de "música nos cafés notáveis" com um roteiro aonde tem sempre, durante uma hora da noite, a apresentação de um grupo musical, sem custo adicional para o cliente. Esse projeto é muito interessante pois proporciona mais um campo de trabalho para músicos e artistas, além criar mais uma motivação para frequentar-se os bares. 

Mas existem outros, escondidos pelas esquinas dos bairros, conservando aquele ar cúmplice, de antigo armazém, como o bar "Los Laureles", a minha mais recente e fascinante descoberta, que funciona desde 1893 no bairro Barracas na esquina de sureste de Iriarte y Goncalves Dias.

Lá podemos encontrar ainda em uma “eletrola”, discos de vinil, apreciar móveis da época como uma estante dividida em quadrados envidraçados aonde se guardavam os cereais, lindíssima, e as cerâmicas do piso, originais, por onde pisaram cantores famosos, poetas, políticos e tangueiros do início do séc XX.  Hoje o lugar, com uma atmosfera cálida e familiar de "bar de bairro de interior", tem preços extremamente acessíveis, por estar afastada do centro turístico, uma comidinha honesta e deliciosa e mantém uma programação variada, que difunde e preserva o tango.

O bairro teve mais de uma dezena de bares similares, mas o “Los Laureles”, ao estar por desaparecer, encontrou Doris Bernnan que o recuperou e conservou. Hoje é o que mais conserva a história e a identidade do entorno porteño, aliada a uma oferta gastronômica e cultural apreciada por seus frequentadores, normalmente vizinhança do bairro que, só ao observar seus rostos, nota-se a familiaridade com o local e o tempo.

Conta-se que um de seus frequentadores, em 1940, que depois tornou-se um notório cantor de tangos, José Lomio, conhecido artìsticamente por “Angel Vargas”, distribuía entradas gratuitas a seus fãs que acabavam lotando o Café Bar.

Não era de se estranhar que nesse local nascessem vários tangos famosos com “A Pan e Água” e “3 Esquinas”. Vejam no youtube: http://youtu.be/vbs6THHgGwQ ; http://youtu.be/T2203qy8wwE

Inclusive, no vídeo de "3 Esquinas" observem o pianista D´Agostino sendo estrevistado "velho" e ele "jovem" tocando, acompanhando o cantor "Angel Vargas".

Mas o melhor de tudo mesmo é que hoje, nessa atmosfera, montam shows e milongas, e se pode dançar um tango, embalados pela voz de cantores do bairro ou por um disco de vinil, com os olhos fechados, em uma “baldosa” (cerâmica) de mais de 110 anos, sabendo que ela guarda a memória de milhares de outros pés e vozes que por ali passaram, energizados pela magia do tango.  A sensação ao se entrar nesse espaço é a de se estar penetrando em um túnel do tempo.

A CORVETA URUGUAI, E SEU HISTÓRICO SALVAMENTO NA ANTÁRTICA - por Nida Chalegre

                     A Corveta Uruguai nos mares da Antártica e hoje como Museu em Puerto Madero

Passeando em uma linda tarde primaveril em Puerto Madero, resolvi visitar o antigo barco ancorado no dique 4, que é agora o Museu ARA Corveta Uruguai e me deparei emocionada com seu histórico feito na Antártica. Sou apaixonada por barcos, vida no mar etc, etc... por isso adoro viajar de Cruzeiro. Devia ter entrado na marinha... mas, isso já é outra conversa. 
A Corveta Uruguai é talvez o veleiro mais antigo da América do Sul e é o barco mais antigo da Armada Argentina. Foi construído em 1874 na Inglaterra e adquirido pelo Presidente  Domingo Faustino Sarmiento. Designado sede flutuante da Escola Naval em 1877, interveio em revoluções, resgates e expedições. Sua ação mais famosa se realizou em 1903 quando resgatou a expedição antártica sueca de Otto Nordenskjold. Saiu de serviço em 1962 e foi declarada em 1967 Monumento Histórico Nacional.

A EXPEDIÇÃO SUECA RESGATADA NA ANTÁRTIDA -  EM 1903, O Capitão Julián Irízar partiu com a Corveta Uruguai com a missão de procurar a expedição científica sueca, da qual já não se tinha mais notícias fazia meses. Levavam provisões para um ano de busca. Por sorte, no prazo de um mês avistaram o refúgio construído pelos sobreviventes em Cerro Nevado cuja embarcação a "Antartic" havia sido destruída pelo gelo. A viagem de volta não foi fácil, tendo que a valente Corveta enfrentar gelo e tempestades. Em 2 de dezembro a Corveta Uruguai chegou vitoriosa ao porto de Buenos Aires. Em terra esperavam já milhares de pessoas que espontaneamente vinham dar uma cálida acolhida a esses sobreviventes aventureiros. 

O feito torna-se grandioso quando visitamos o interior da Corveta e ficamos pensando nas condições primitivas que tinham, comparadas com o conforto e tecnologia que temos disponíveis hoje. 

Parabéns a esses homens corajosos que nos deixaram valores e abriram caminho para o mundo contemporâneo.

UMA CURIOSIDADE SOBRE O CASSINO DE BUENOS AIRES E OS ESPORTES DO PORTENHO - por Nida Chalegre

A ESPERTEZA DA LOCALIZAÇÃO DO CASSINO - Uma característica do portenho é ser esperto e criativo e 
encontrar saída para quase tudo. Pois é, sabem que "os jogos de azar - roleta e black jack" foram proibidos na capital federal?

Mas o portenho não se conformou - como, ficar sem um Cassino na Capital ? -  e colocou o Cassino em 2 barcos aos quais se tem acesso por uma ponte interna coberta, anexa ao prédio de entrada, que se encontra em terra. No rio, o jogo não está proibido.
Genial !!! e todos podem ir jogar tranquilos, sabendo que não estão infligindo nenhuma lei.

OS ESPORTES DO PORTENHO - argentino adora esporte e são fanáticos pelo futebol. Em um final de semana primaveril podemos encontrar milhares de pessoas praticando ou assistindo: futebol na Bombonera; remo em Puerto Madero; corrida de cavalo no hipódromo de Palermo; maratona pelas ruas da cidade; uma partida de hockey (eles têm a maior jogadora de hóckey do mundo); jogando umas fichas no Cassino e.... o mais importante, comendo
 A VACA !!!

uma partida de hockey (eles têm a maior jogadora de hóckey do mundo)

                                                                ............ COMENDO A VACA !!!

A NOITE DOS MUSEUS - por Nida Chalegre

À semelhança de outras cidades "civilizadas" no mundo inteiro, nesse ano a décima edição da NOITE DOS MUSEUS, promovida pelo governo portenho, isso é, da cidade de Buenos Aires, acontece nesse sábado, 9 de novembro. São 189 museus e espaços culturais abertos ao público, com visitas guiadas livres e gratuitas. É uma noite de efervecência cultural com famílias inteiras com crianças de todas as idades, circulando pelos espaços e ruas em uma noite festiva e primaveril. A pé, de bicicleta ou de ônibus (com passagem gratuita para incentivar a circulação e acesso de todos) se pode apreciar inclusive shows e orquestras que se espalham pelas ruas e espaços alegrando e integrando os portenhos às artes e cultura.

CASA DE CULTURA - PRÉDIO DO DIÁRIO "LA PRENSA" - no ano passado entre os museus que visitei escolhi nesse dia acompanhar a visita guiada e ver o show de canto e dança que teria no prédio do diário "LA PRENSA" na Av de Mayo.

O diário "LA PRENSA" foi fundado em 1896 e foi o mais importante jornal de sua época até ser fechado pelo governo de Perón.  Em 1951 Perón decidiu acabar com a liberdade de imprensa opositora e confiscou o diário. O confisco aumentou a oposição antiperonista e a condenação da imprensa livre mundial. Quando o diário foi devolvido a seus donos nunca mais voltou a ter a importância dos antigos tempos.
Seu prédio, hoje Casa de Cultura, é um dos edifícios mais emblemáticos da cidade portenha com seu estilo academicista françês, da escola de Belas Artes de Paris. Seu salão dourado, aonde se assistiu ao show é uma cópia fiel do salão do Palácio de Versailles. 

O edifício termina com uma monumental estátua de bronze de 55 m de altura com os símbolos da liberdade de imprensa. O relógio da fachada tem uma águia sobre ele que representa o jornalismo que "TUDO VÊ".

Um detalhe interessante no interior do edifício são metros e metros de canos que comunicam os escritórios e eram utilizadas por gravidade para enviar documentos para a central dos correios que se encontrava no primeiro piso. Lembrem-se, que naquela época não havia internet !!!

Em 1900 incorporaram uma novidade: uma sirena anunciando os grandes acontecimentos. Foi soada, pela primeira vez em 1900 quando assassinaram a Humberto I da Itália, quando da chegada do homem à lua, em 1969, quando a Argentina ganhou o Mundial de  Futebol em 1978, quando a Argentina desembarcou nas Malvinas em 1982 e..........eu tive o prazer de ouví-la, em conjunto com todas as "campanas" do País, para celebrar a assunção do PARA FRANCISCO.

Desde 1985 é, entre outros prédios históricos, considerado Monumento Histórico Nacional.