Assim, existe, em Buenos
Aires, uma quantidade de bares notáveis, tombados pelo patrimônio
histórico pela sua importância histórica, arquitetônica e cultural. São mais ou
menos 50. A maioria dos turistas visita aqueles mais centrais que estão nos roteiros turísticos,
como o Café Tortoni e o Café de los Angelitos, por exemplo.
Inclusive, o governo da capital implantou um projeto de "música nos cafés notáveis" com um roteiro aonde tem sempre, durante uma hora da noite, a apresentação de um grupo musical, sem custo adicional para o cliente. Esse projeto é muito interessante pois proporciona mais um campo de trabalho para músicos e artistas, além criar mais uma motivação para frequentar-se os bares.
Mas existem outros, escondidos pelas esquinas dos bairros, conservando aquele ar cúmplice, de antigo armazém, como o bar "Los Laureles", a minha mais recente e fascinante
descoberta, que funciona desde 1893 no bairro Barracas na esquina de sureste de
Iriarte y Goncalves Dias.
Lá podemos encontrar ainda
em uma “eletrola”, discos de vinil, apreciar móveis da época como uma estante
dividida em quadrados envidraçados aonde se guardavam os cereais, lindíssima, e
as cerâmicas do piso, originais, por onde pisaram cantores famosos, poetas,
políticos e tangueiros do início do séc XX. Hoje o lugar, com uma atmosfera
cálida e familiar de "bar de bairro de interior", tem preços
extremamente acessíveis, por estar afastada do centro turístico, uma comidinha honesta e deliciosa e mantém uma
programação variada, que difunde e preserva o tango.
O bairro teve mais de uma dezena de bares similares, mas o “Los
Laureles”, ao estar por desaparecer, encontrou Doris Bernnan que o recuperou e
conservou. Hoje é o que mais conserva a história e a identidade do entorno porteño,
aliada a uma oferta gastronômica e cultural apreciada por seus frequentadores,
normalmente vizinhança do bairro que, só ao observar seus rostos, nota-se a
familiaridade com o local e o tempo.
Conta-se que um de seus frequentadores, em 1940, que depois
tornou-se um notório cantor de tangos, José Lomio, conhecido artìsticamente por
“Angel Vargas”, distribuía entradas gratuitas a seus fãs que acabavam lotando o
Café Bar.
Não era de se estranhar que nesse local nascessem vários tangos
famosos com “A Pan e Água” e “3 Esquinas”. Vejam no youtube: http://youtu.be/vbs6THHgGwQ ; http://youtu.be/T2203qy8wwE
Inclusive, no vídeo de "3 Esquinas" observem o pianista D´Agostino sendo estrevistado "velho" e ele "jovem" tocando, acompanhando o cantor "Angel Vargas".Mas o melhor de tudo mesmo é que hoje, nessa atmosfera, montam shows e milongas, e se pode dançar um tango, embalados pela voz de cantores do bairro ou por um disco de vinil, com os olhos fechados, em uma “baldosa” (cerâmica) de mais de 110 anos, sabendo que ela guarda a memória de milhares de outros pés e vozes que por ali passaram, energizados pela magia do tango. A sensação ao se entrar nesse espaço é a de se estar penetrando em um túnel do tempo.
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