quarta-feira, 20 de novembro de 2013

OS BARES NOTÁVEIS DE BUENOS AIRES - A DESCOBERTA DO “LOS LAURELES” por Nida Chalegre


Desde o tempo em que escritores, intelectuais, jornalistas e artistas se reuniam, entre os séculos XIX e XX, para conversar nas mesas de bares e cafeterias portenhas, o ato de tomar café se tornou uma instituição na capital argentina. Em qualquer hora do dia pode-se ver pessoas tomando um café, lendo um jornal, um livro, ou conversando calmamente com outra, desfrutando desse momento, como se nada de melhor tivessem para fazer.
Assim, existe, em Buenos Aires, uma quantidade de bares notáveis,  tombados pelo patrimônio histórico pela sua importância histórica, arquitetônica e cultural. São mais ou menos 50. A maioria dos turistas visita aqueles mais centrais que estão nos roteiros turísticos, como o Café Tortoni e o Café de los Angelitos, por exemplo. 

Inclusive, o governo da capital implantou um projeto de "música nos cafés notáveis" com um roteiro aonde tem sempre, durante uma hora da noite, a apresentação de um grupo musical, sem custo adicional para o cliente. Esse projeto é muito interessante pois proporciona mais um campo de trabalho para músicos e artistas, além criar mais uma motivação para frequentar-se os bares. 

Mas existem outros, escondidos pelas esquinas dos bairros, conservando aquele ar cúmplice, de antigo armazém, como o bar "Los Laureles", a minha mais recente e fascinante descoberta, que funciona desde 1893 no bairro Barracas na esquina de sureste de Iriarte y Goncalves Dias.

Lá podemos encontrar ainda em uma “eletrola”, discos de vinil, apreciar móveis da época como uma estante dividida em quadrados envidraçados aonde se guardavam os cereais, lindíssima, e as cerâmicas do piso, originais, por onde pisaram cantores famosos, poetas, políticos e tangueiros do início do séc XX.  Hoje o lugar, com uma atmosfera cálida e familiar de "bar de bairro de interior", tem preços extremamente acessíveis, por estar afastada do centro turístico, uma comidinha honesta e deliciosa e mantém uma programação variada, que difunde e preserva o tango.


O bairro teve mais de uma dezena de bares similares, mas o “Los Laureles”, ao estar por desaparecer, encontrou Doris Bernnan que o recuperou e conservou. Hoje é o que mais conserva a história e a identidade do entorno porteño, aliada a uma oferta gastronômica e cultural apreciada por seus frequentadores, normalmente vizinhança do bairro que, só ao observar seus rostos, nota-se a familiaridade com o local e o tempo.
Conta-se que um de seus frequentadores, em 1940, que depois tornou-se um notório cantor de tangos, José Lomio, conhecido artìsticamente por “Angel Vargas”, distribuía entradas gratuitas a seus fãs que acabavam lotando o Café Bar.

Não era de se estranhar que nesse local nascessem vários tangos famosos com “A Pan e Água” e “3 Esquinas”. Vejam no youtube: http://youtu.be/vbs6THHgGwQ ; http://youtu.be/T2203qy8wwE
Inclusive, no vídeo de "3 Esquinas" observem o pianista D´Agostino sendo estrevistado "velho" e ele "jovem" tocando, acompanhando o cantor "Angel Vargas".

Mas o melhor de tudo mesmo é que hoje, nessa atmosfera, montam shows e milongas, e se pode dançar um tango, embalados pela voz de cantores do bairro ou por um disco de vinil, com os olhos fechados, em uma “baldosa” (cerâmica) de mais de 110 anos, sabendo que ela guarda a memória de milhares de outros pés e vozes que por ali passaram, energizados pela magia do tango.  A sensação ao se entrar nesse espaço é a de se estar penetrando em um túnel do tempo.

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