segunda-feira, 31 de março de 2014

O FILETEADO, A MAIS PORTENHA DAS ARTES PLÁSTICAS - por Nida Chalegre

Precisa ter o olhar atento para descobrir a arte do fileteado porteño e identificá-lo como uma manifestação artística única da cidade. Você só vai encontrá-lo aqui.

Para quem não tem idéia ou nunca viu, o fileteado é um estilo artístico de pintura e desenho que caracteriza-se por linhas que se transformam em espirais, cores fortes, o uso recorrente da simetria, efeitos tridimensionais mediante sombras e perspetivas, e um uso sobrecarregado da superfície, típico da cidade de Buenos Aires. O seu repertório decorativo inclui principalmente estilizações de folhas, animais, cornucópias, flores, bandeirolas e pedras preciosas. Muito  interessante.  


Como curiosidade, a única figura humana que aparece nos fileteados é a do rosto do famoso cantor de tango Carlos Gardel. 

Ultimamente também, os artistas tem usado o fileteado em desenhos corporais, como "arte vivente".


O FILETEADO nasceu no final do século XIX, como um simples ornamento para embelezar carroças cinzas de tração animal que transportavam alimentos como leitefrutas,verduras e pão.
COMO SURGIU ? Contam que existia uma oficina de carroçarias na que trabalhavam, colaborando em tarefas menores, dois meninos humildes de origem italiana, de dez e treze anos de idade, que se converteriam em destacados fileteadores. Um dia o dono lhes pediu que dessem uma demão de pintura a uma carroça, que na época estavam todas pintadas de cinza. Talvez por travessura ou só para experimentar, o fato é que pintaram a carroça de vermelho, e o dono gostou da ideia. Aliás, a partir desse dia outros clientes quiseram pintar as suas carroças com cores, e as empresas de carroçaria imitaram a ideia. E virou moda.
Das carroças passou para os carros.
Geralmente se incluem dentro da obra, frases engenhosas, provérbios poéticos ou aforismos engraçados, emocionais ou filosóficos, escritos às vezes em lunfardo (gíria), e com letras ornamentadas, geralmente góticas ou cursivas. Mais ou menos como encontramos nas chapas dos caminhões brasileiros..... vejam:
  • No dejes para mañana lo que puedas beber hoy.
  • No seré doctor…pero tengo dos chapas
  • Feliz de Adán que no tuvo suegra
  • A Dios bendigo la suerte de ser…¡Argentino hasta la muerte!


Em 1970 foi organizada a primeira exposição do filete, acontecimento a partir do qual o fileteado ganhou uma maior importância. Deixou de ser visto como um humilde artesanato que só servia de simples ornamento para carros ou caminhões, e ganhou uma maior importância, passando a ser reconhecido no país e no exterior como uma arte da cidade, que desde então se separou do caminhão e conseguiu se espalhar em todo tipo de objetos.
No ano 2006 a legislatura portenha declarou o fileteado como patrimônio cultural da Cidade Autônoma de Buenos Aires. 
Em 1975 foi proibido o uso do fileteado nos ônibus (à excepção de um filete entre os planos de cor do teto e a parte inferior), para não distrair o usuário das informações necessárias.

Martiniano Arce
Não poderia deixar de mencionar aqui um dos grandes fileteadores, Martiniano Arce que em 1988 foi convidado pela Embaixada da Argentina para representar os seus filetes e naturezas no Museu "Museon" em Haia, Holanda.


Ainda hoje vibrei ao encontrar uma padaria em plena rua FLORIDA, com sua fachada totalmente decorada com o
típico FILETEADO, a mais porteña das artes plásticas e símbolo da identidade cultural dessa cidade.









Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo chalegre.nida@gmail.com que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), arte, gastronomia,  vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

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