domingo, 23 de fevereiro de 2014

O PALÁCIO DE LAS ÁGUAS CORRIENTES E A TRAGÉDIA DA FEBRE AMARELA em 1871 - por Nida Chalegre

Tem alguns prédios aqui em Buenos Aires que nos surpreendem por não estarem nos roteiros turísticos tradicionais. Vamos caminhando pela rua e de repente somos impactados por uma construção inusual e nos perguntamos: Uau...o que é isto?
É um Palácio de algum rei? É um teatro? É a casa de verão de algum Imperador?

Nesse caso, a construção fantástica que encontrei de repente, caminhando pela rua Córdoba, ao dobrar uma esquina, era simplesmente, o PALÁCIO DE LAS ÁGUAS CORRIENTES !!!

Essa luxuosa construção é um dos mais exuberantes prédios de Buenos Aires. Com uma arquitetura eclética que podemos enquadrar como do Segundo Império Francês, foi construído para conter, adivinhem o quê: 12 tanques de água!!! São 72 milhões de litros de água sustentados por uma estrutura de vigas e colunas de ferro. Com material totalmente importado, suas obras começaram em 1887 e 400 trabalhadores o finalizaram em 1894


Era costume naquela época esconder estações meramente utilitárias em prédios de uma arquitetura ostentosa, além do que o Governo Nacional havia se decidido por uma construção vistosa porque o lugar escolhido era central e estava pondo-se de moda.
Desde 1987 o edifício, localizado na  Av. Córdoba 1.900 é considerado Monumento Histórico Nacional e pode-se visitar, no primeiro andar, um museu que conta a história da evolução das obras de saneamento na cidade, o surgimento das salas de banho incorporadas nas casas,  e os primeiros equipamentos desses banheiros.
museu do Palácio das Águas Corrientes
Muito interessante verificar que os banhos e o conceito de higiene que temos hoje, data apenas de pouco mais de um século e o quanto isso mudou a qualidade de vida e saúde das pessoas.
banheiro antigo
nossos banheiros atuais
Esse prédio teve uma importância muito grande para a cidade e foi um marco na evolução da melhoria do saneamento de Buenos Aires. Com ele e a distribuição de água tratada, a cidade começou a resolver os problemas de insalubridade que motivaram várias grandes epidemias: de cólera em 1867, quando morreram 1500 pessoas; de febre tifoide em 1869 que matou 500 enquanto a varíola e a difteria faziam estragos. Em 1871 chegou a mais violenta, a febre amarela, que matou 15.000 em seis meses, quando a população era de 178.000 habitantes. 

Cabe lembrar aqui que a epidemia de febre amarela que vinha do Rio de Janeiro e Paraguai fez com que o bairro de San Telmo (perto do porto), naquela época considerado lugar nobre com belíssimos sobrados, fosse praticamente abandonado pela classe alta que se deslocou para bairros mais altos como Palermo.

Bairro de San Telmo
Por isso até hoje pode-se observar no bairro boêmio de San Telmo resquícios desses belíssimos sobrados, testemunhos de uma época de riqueza do local.
CURIOSIDADE:
Juan Manuel Blanes (Montevidéu8 de junho de 1830 — Pisa15 de abril de 1901)  pintor uruguaio, notável por seus trabalhos de temas históricos, retratou o que foi a tragédia da febre amarela em Buenos Aires.
Esse óleo sobre tela está no Museu de Artes Visuais de Montevidéo.




Pensando bem, pela sua importância, as águas tratadas merecem um Palácio.



Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo chalegre.nida@gmail.com que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), arte, gastronomia,  vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

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