terça-feira, 23 de setembro de 2014

TEATRO CERVANTES - UM SONHO QUIXOTESCO - por Nida Chalegre

Quando se fala em teatro em Buenos Aires pensa-se logo no famoso TEATRO COLÓN.
Lógico, pela sua beleza e magnitude encontra-se em primeiro lugar. Mas há outras casas de espetáculo dignas de respeito como o TEATRO CERVANTES que fica até bem próximo do Colón, na esquina de Córdoba e Libertad, e é o único Teatro Nacional da Argentina. 

A atriz espanhola María Guerrero e seu esposo Fernando Díaz de Mendoza, chegaram em Buenos Aires em 1897 e todos os anos vinham com sua companhia fazer temporada no teatro Odeón. Com grande prestígio na capital argentina, em 1918 resolvem construir o TEATRO CERVANTES. O batizaram assim em homenagem à Miguel de Cervantes Saavedra, autor de "Don Quixote de La Mancha", uma das mais importantes obras da literatura espanhola. Influentes, conseguiram até o apoio do rei da Espanha, Alfonso XIII.
 

Dez cidades espanholas contribuíram para o suntuoso teatro: de Valência vieram azulejos e damascos; de Tarragona, as rosetas vermelhas para o piso; de Ronda, as portas e os palcos copiados de uma velha sacristia; de Sevilla, os bancos do pátio, espelhos, bancos, grades, ferragens, azulejos; de Lucena, lustres, lamparinas, faróis; de Barcelona, a pintura de afresco do teto; de Madrid, os cortinados, tapetes e a cortina do palco, uma verdadeira obra de tapeçaria com a representação do escudo de armas da cidade de Buenos Aires bordada em seda e ouro.

Mas os altos custos de manutenção e a deficiente administração de Fernando Díaz de Mendoza (artista e não administrador) levou o teatro à falência e em 1926, o Banco de La Nación adquiriu o prédio e ele se torna o Teatro Nacional Cervantes.

Em 1961 um incêndio destruiu grande parte de suas instalações. Na sua recuperação foi adicionado um edifício de 13 pisos e 3 subsolos incorporando outros espaços com salas de ensaio, camarins, depósitos e oficinas para administração.
O Teatro Cervantes, renovado e novinho em folha, reabriu 1968.


VISITA GUIADA -
Você não pode deixar de fazer uma visita guiada percorrendo as instalações do
teatro. María Guerrero, seu esposo Fernando Díaz de Mendoza e seus dois filhos, representados por artistas, contam a história da construção do teatro e sua inauguração em setembro de 1921. Com direito, inclusive, à aparição de um fantasma !!! 
Informações na bilheteria do teatro.

Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo chalegre.nida@gmail.com que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), arte, gastronomia,  vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O RENASCIMENTO DA CONFEITARIA LONDON - por Nida Chalegre


Os bares e a cultura do bar fazem parte da identidade portenha. O portenho é capaz de passar "horas e horas" em um bar tomando um café, lendo seu jornal ou até "escrevendo um livro".

Inaugurada em 1954, a Confeitaria LONDON CITY sempre foi frequentada por numerosos artistas e homens da política. Convém dizer que a sua localização, na esquina da Av. de Mayo, com Peru (sequência da Florida) e há 4 quadras da Casa Rosada, é estratégica, em pleno coração de Buenos Aires
O bar recebeu o nome de London City em homenagem a duas lojas inglesas que antes se encontravam lá perto: "A la ciudad de Londres" e "Gath & Chaves".

Para alguns, a visita à Confitería London City assemelha-se a uma peregrinação. Era para lá que, durante os anos 70, JULIO CORTÁZAR ia todos os dias, 
entre cafés e inúmeras tragadas em seus cigarillosescrever o seu primeiro romance: Los premios, que se tornaria um monumento da literatura argentina.


Pode-se encontrar lá uma caderneta, uma caneta e uma placa de metal avisando que
Cortázar frequentava o local. 

Suas portas foram fechadas há um ano, mas o espírito do café London City conseguiu resistir, ao contrário do que aconteceu com outros chamados 'bares notáveis' (históricos) da cidade. 

Nesse mês de agosto, exatamente um ano depois, o café London abriu novamente suas portas depois 
de uma remodelação que buscou recuperar a estética dos primeiros tempos, a mesma que seduziu o escritor  Julio Cortázar ou que era a tentação do ex-presidente Arturo Illia durante seus passeios pela “Gran Vía” portenha (a Avenida de Mayo).


A REFORMA 

À medida que levantavam as camadas foram aparecendo rastros do edifício original e então puderam fazer réplicas e adaptações nas molduras, nas colunas espelhadas e em alguns revestimentos. E também da marquise original, cujo último registro fotográfico é de 1969 e não se sabe em que ano foi retirada.

Com a ideia era de devolver ao portenho a essência do lugar incorporaram um balcão de café rápido. Contam que no início era assim, mas não acharam registro fotográfico. 

O balcão foi construído na vitrine que dá para a rua Peru, para mostrar essa história do cafezinho rápido do portenho. Também tem café para levar e um setor de confeitaria onde as pessoas podem comer um sanduíche ou comprar um lindo bolo, além da comida tradicional do restaurante.




OS BARES NOTÁVEIS
Na cidade de Buenos Aires existem 73 bares notáveis. Denominados assim por sua importância histórica. Nos últimos 6 anos, 9 deles fecharam suas portas. Outros, mudaram de função.

Por exemplo, a La Richmond, em plena rua Florida, não teve a mesma sorte da London. Seu lugar agora é ocupado por uma loja de roupa esportiva. O antigo café é apenas lembrado ao fundo com algumas poucas mesas e um nostálgico clima que não faz juz ao que foi um dia. 
Mas esse já é um assunto para outro dia.

Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo chalegre.nida@gmail.com que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), arte, gastronomia,  vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

UM CERTO AR DE "BELLE ÉPOQUE" - por Nida Chalegre


Uma das coisas que mais me encanta em Buenos Aires é esse permanente ar de "Belle Époque" que percebe aquele que tem o olhar atento à arquitetura e aos detalhes. 
A Belle Époque (expressão francesa que significa bela época) foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no fim do século XIX  e durou até a Primeira Guerra Mundial em 1914. A expressão também designa o clima intelectual e artístico da época. Foi um período marcado por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano.
Foi considerada uma era de ouro, da beleza, de inovação e paz
entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. Foi um campo propício para o nascimento dessa expressão cultural típica da cidade portenha - o TANGO.
Por isso, olhar para cima é tão prazeroso na cidade. Sou particularmente apaixonada pelos desenhos das luminárias que persistem ao tempo e formam esse delicioso contraste entre o novo e o antigo. Quando, ao entardecer elas se iluminam contra o céu ainda azul ou se posicionam em frente aos prédios, nos reportam a "Belle Époque".
Outra expressão da "Belle Époque" são as Cúpulas de Buenos Aires. São mais de 400 cúpulas que enfeitam a terminação de prédios antigos e rasgam o céu da cidade, oferecendo um  espetáculo único e surpreendente !!!.
As cúpulas foram sinônimo de uma época de opulência onde a arquitetura era uma forma renascentista de irmanar-se com Deus. 

A cúpula, imponente, com uma ponta direcionada aos céus, era um símbolo de “status” usado pelas primeiras famílias ricas que o país teve. 

A influência altamente européia da arquitetura dessas cúpulas, mais as necessidades da classe da burguesia local do século XIX de ser similar às classes altas européias, conseguiu trazer para a América grandes mestres e artesãos da construção. 
Pode-se ver a maioria dessas cúpulas nos arredores do Congresso, ao longo da Avenida de Mayo, e ao longo de todo micro-centro da cidade.
Cúpula do Congresso



E assim vai-se caminhando e descobrindo as cúpulas com estilos variados aonde sobressaem o árabe, o espanhol e o russo. 

As cúpulas tem suportado o passar dos anos, tormentas, chuvas, e verões e do alto, têm sido testemunhas privilegiadas da história argentina. 

Quando vierem por aqui não se esqueçam
de também "olhar para cima".
Quem quiser visitar Buenos Aires, fugindo do tradicional roteiro destinado aos “turistas” pode me enviar um e-mail pelo nida@nidachalegre.com.br que encaminho dicas relativas ao seu interesse.  Por exemplo: aulas de tango/milongas (o verdadeiro tango dançado pelos locais, diferente dos shows de turistas), gastronomia, vinhos e inclusive, flats lindos e baratos para estadia.